segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Você tem Olhos bons? (sermão inédito- Paul Washer)


Sermão escrito por 
Paul David Washer
Diretor da HeartyCry Missionary Society
para a Revista HartyCry Magazine, Vol.55, Outubro de 2007

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Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. (Mateus 6:19-24)

A passagem citada é uma das passagens mais importantes das Escrituras no que diz respeito às prioridades cristã e missões. De acordo com esta passagem da Escritura, o cristão deve estar em constante vigilancia, para não se desviar as prioridades eternas. Duas escolhas estão sempre diante de nós. Uma escolha oferece recompensas imediatas que são temporais e enganosas. A outra é um caminho estreito que pode custar-nos tudo, mas as recompensas são eternas e vão além da capacidade de até mesmo serem descritas nas Escrituras.

I. O Tesouro de Deus

Se sabemos o que é mais precioso para Deus, então vamos saber o que deve ser mais estimado por nós - o tesouro de Deus e o nosso deve ser o mesmo. É exatamente isso quefez a vida de Jesus ser tão diferente da vida de todos os outros homens. Ele estimava apenas o que Seu Pai estimava. Que Deus nos conceda a graça de fazer o mesmo.

O que é que Deus mais valoriza? Com apenas uma leitura superficial das Escrituras, podemos descobrir rapidamente que a prioridade de Deus é sua própria glória. Ele deseja que todos os aspectos do seu ser, seus atributos, e suas obras sejam conhecidos pela criação e que todo o louvor e honra sejam atribuídos somente a Ele. Considere a seguinte passagem das Escrituras: 

Mas desde o nascente do sol até ao poente é grande entre os gentios o meu nome; e em todo o lugar se oferecerá ao meu nome incenso, e uma oferta pura; porque o meu nome é grande entre os gentios, diz o SENHOR dos Exércitos.” (Malaquias 1:11)

Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;” (Mateus 6:9-10)

É o grande desejo de Deus e seu grande tesouro ver o seu nome, em mais alta estima entre as nações, e entre todas as criaturas no céu e na terra. À primeira vista, isto pode parecer egocêntrica, mas as primeiras impressões são geralmente muito enganosas. Para Deus buscar a Sua glória acima de tudo é a maior demonstração de Seu amor.

A profundidade do amor de uma pessoa é muitas vezes demonstrado pela riqueza dos presentes que ele / ela dá. Se alguém lhe der de presente um galho ou um pequeno fragmento de cascalho, isso não seria uma impressionante manifestação de amor. Você não teria pressa em alertar a mídia, nem você reuniria seus amigos para contar-lhes deste grande amor que tem sido demonstrado por você. Não seria algo que você se lembraria por muito longo, muito menos, que você guardaria em seu coração todos os dias de sua vida. No entanto, se alguém der sua própria vida para que você pudesse viver, isso realmente garantiria tal reação. Seria uma história digna de atenção da mídia, e seus amigos provavelmente iriam querer ouvir tudo a respeito. Você valorizaria um ato de amor tão altruísta todos os dias da sua a vida. Então, a medida do amor de alguém é muitas vezes demonstrada pela grandeza do presente que ela dá.

Agora, nós devemos nos perguntar uma coisa: “Qual é o maior presente que Deus poderia Dar a alguém?” Não é a prosperidade, a saúde ou nem mesmo o céu. Ele próprio é o maior presente. O ato mais amoroso que Deus pode fazer por suas criaturas é agir de tal maneira, que venha a revelar ou demonstrar a plenitude de sua glória para eles – é tomar o centro das atenções e chamar todas as criaturas para fixar os seus olhos e seus corações sobre Ele. Por esta razão, quando Deus faz o que Ele faz por sua própria glória, é a maior demonstração do Seu amor para com as suas criaturas.

O contrário disso é igualmente verdadeiro. As mais pobres e infelizes das criaturas são aquelas que não conhecem a Deus, que não têm conhecimento da sua glória, e que estão excluidas da sua verdade. As Escrituras declaram que Deus colocou a eternidade no coração dos homens (Eclesiastes 3:11). Este aspecto infinito do coração pode apenas ser preenchido pelo infinito. O homem pode colocar em seu coração toda a fama, a riqueza, o poder e o prazer que este mundo tem para oferecer, mas ele ainda estará vazio. A eternidade não pode ser preenchida com o temporal, nem o infinito pode ser satisfeito pelo finito. O coração do homem foi feito para a medida plena da glória de Deus. Sem isso o homem é pobre, miserável, e vazio.

Em resumo, o tesouro de Deus, Seu maior desejo e propósito é que seu nome seja grande entre as nações, que Seu nome seja santificado (muito estimado), que venha o Seu Reino, e que Sua vontade seja feita! No entanto, devemos nos perguntar: “É este também o nosso maior propósito e paixão?”

Nós ficamos acordados à noite e nos preocupamos com tantas coisas. Nós nos desgastamos e ficamos ansiosos a respeito de tantas coisas. Desejamos as coisas apaixonadamente, freneticamente, até mesmo ao ponto de obsessão: casas e terras, empregos e promoções, fama e reputação, necessidades e desejos, e inúmeras outras coisas. Mas, quando foi a última vez que perdemos o sono por causa de nossa preocupação com as nações que não ouviram falar de Cristo? Quando foi a última vez que nosso coração se partiu em dois, porque existem lugares na Terra onde o nome de Deus não é santificado, Seu reino avança muito lentamente, e Sua vontade não é tudo no coração dos homens? Nós nos desgastamos e lutamos por tantas coisas, mas nós em algum momento pensamos sobre o que é mais importante na mente de Deus?

II. O aviso de Cristo

Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;” 

Neste verso, Jesus está chamando seus discípulos para tomarem uma decisão radical de se arrepender de seu materialismo terrestre e voltar seu coração para Deus e Seu reino. Embora o Escrituras não falem da riqueza como algo nem bom nem mau, ele advertem-nos que o amor as riqueza é um grande mal (“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” I Timóteo 6:10) e o que a busca por acumulação de riqueza apenas irá resultar em perdas e vergonha no dia do juízo (As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas de traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias. Tiago 5:2-3).

Independentemente dos avisos que estão em toda a Escritura, parece que o desejo de riqueza é o maior concorrente de Deus pelos corações dos homens. É irônico que, embora a maioria das pessoas passem a maior parte de seu tempo “valorizando os tesouros”, muito poucos realmente “possuem tesouros.” E aqueles raros indivíduos que realmente obtêm os seus tesouros aqui na terra rapidamente ficam cansado deles, uma vez que são obtidos. Não é uma grande tolice trocar o glorioso presente de Deus por tesouros terrenos que raramente conseguimos obter?

Pense em algo que nesta terra é muito cobiçado por homens e podemos avaliar rapidamente o seu verdadeiro valor, com uma simples pergunta: “É eterno?” Se for, é digno de ser obtido, mesmo as custas de todas as outras coisas. Se não, o seu valor é equivalente ao pó em que ele vai se transformar. Buscá-lo é um desperdício patético de uma vida humana e uma incumbência de tolos.

III. O aviso de Cristo

Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.”

As Escrituras não falam contra o tesouro ou contra a busca do tesouro, mas ela nos fala contra o desperdício tolo da vida que Deus nos deu na vã busca de coisas que não têm nenhum valor eterno e nunca pode preencher o desejo infinito de um coração feito para a eternidade. Em Isaías 55:2, a Escritura desaprova os homens que procuram o temporal as custas do eterno:

“Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?” (Isaías 55:2)

Nada, exceto a pessoa e a vontade de Deus pode preencher um homem. O único tesouro que vale a pena ter é aquilo que é eterno e que vem de Deus. Tal tesouro é encontrado somente fazendo a Sua vontade, vivendo para a Sua glória, e buscando o Seu Reino. Deus não prometeu cuidar de nós? Ele não prometeu atender todas as nossas necessidades? Ele não tem se mostrado capaz e disposto a encher seus filhos com bênçãos? Ele não tem mostrado que não guarda nada que é bom de seus filhos?  Por que, então, é que vamos colocar ambições terrenas à frente da busca por Deus e da busca pela vontade de Deus? Nossa única obrigação também é nosso único meio de viver uma vida verdadeiramente abundante e satisfeita - “Buscai primeiro o Reino de Deus e Sua justiça” (Mateus 6:33). O céu e a terra passarão, os produtos inferior deste mundo irão queimar no fogo como feno, madeira e palha (I Coríntios 3:12-15). No entanto, o homem que faz a vontade de Deus vai habitar para sempre e suas obras permanecerá por toda a eternidade (I João 2:17). No céu não haverá arrependimentos por ter “vivido muito” para o reino de Deus, mas podemos ter certeza de que haverá lamento por ter vivido “tão pouco” para o reino.

IV. A verdade inegável

Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”

Em toda a Escritura, diversas vezes somos confrontados com certas declarações que abrem os nossos corações e revelam a verdade sobre o nosso caráter e desejos. O versículo acima é uma dessas declarações. Independentemente de quantas vezes ou com quanta força declaramos que Deus e seu Reino são o nosso maior desejo, o desejo verdadeiro da nossa vida pode ser revelado por questões menores e mais simples, como: Onde está o nosso coração? O que ocupa os nossos pensamentos acima todas as outras coisas? O que almejamos? Podemos dizer, verdadeiramente, que Deus e seu Reino são a nossa paixão?

E se um estranho que não saiba da nossa confissão cristã assistisse nossas vidas e lesse nossos pensamentos? Ele seria convencido de que Deus e seu Reino são as nossas duas maiores prioridades? Será que ele ouviria constantemente conversas  sobre as misericórdias de Deus e o avanço do Seu Reino? Será que ele nos ouve orar com paixão pelas nações não-evangelizadas? Será que ele nos verá passar uma noite sem dormir porque o Nome de Deus não é muito estimado entre todos os povos, porque o Seu Reino não cobriu toda a terra, ou porque a Sua vontade não é obedecida, ou nem mesmo conhecida pela grande maioria dos homens?

Mais se fossemos honestos, seríamos forçados a admitir que ele iria ouvir-nos falar sobre casas e terras, carros e brinquedos, recreações e hobbies. Ele nos veria obcecado com preocupações mundanas, desejos e prazeres. Ele ouviria muito pouco sobre Deus em nossa conversação diária, veria pouco atividade voltada para o avanço do Reino, e acharia absurdo declararmos que o nosso tesouro está no céu!

V. Olhos Bons

A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!

Ao dizer que os “olhos são a lâmpada do corpo,” Jesus não está dando-nos explicações sobre a fisiologia humana, mas Ele está ensinando-nos sobre a grande influência que têm os nossos desejos em nossas vidas. O nosso corpo vai para onde nossos olhos estão focados, e nossos olhos se concentram no que nosso coração deseja. Se o nosso coração deseja coisas do mundo, então as coisas do mundo serão o nosso foco e será aquilo que buscaremos. No entanto, se o nosso coração realmente deseja as coisas de Deus, então nossos olhos estarão fixos sobre elas, e nós iremos persegui-las com paixão. O olho bom tem uma visão única sem confusão ou duplicidade. A.T. Robertson escreve: “Se nossos olhos são saudáveis, vemos claramente e com um único foco. Se os olhos estão doentes, vesgo ou estrábico (maus, malignos), nós veremos em duplicidade e nossa visão será confusa. Mantemos um olho no tesouros acumulados da terra e outro no tesouro do céu “(Word Pictures).

Como discípulos de Jesus Cristo, somos chamados a singularidade de coração e propósito. Somos chamados a buscar primeiro o reino de Deus e confiar todas as nossas necessidades naturais para o Mestre. Ele sabe do que precisamos antes de pedirmos a Ele, e Ele está disposto a dar coisas boas para seus filhos.


VI. Dois Senhores

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.”

Jesus ensinou muito sobre dinheiro. A razão é simples - Neste mundo caído, o dinheiro parece ser o maior concorrente de Deus para os corações dos homens. Se, pela graça, um homem libertar-se do amor e da busca das riquezas, ele se abrirá à possibilidade de devoção total à Deus.

O homem caído é um escravo de alguém. A questão não é se o homem é ou não um escravo, mas de quem ele é escravo. Alguns homens são escravos de outros homens, alguns são escravos de si mesmos, e outros são escravos de coisas tais como dinheiro, segurança e respeitabilidade. Outros homens são dedicados a atividades vãs, prazeres ilusórios, ou algo “Inofensivo” como um hobby. A lista é quase infinita, mas Cristo chama-nos a afastar-nos de tal escravidão e buscarmos de todo o coração e sem reservas a Ele.

Embora a Escritura ensina-nos acima que é IMPOSSÍVEL servir a Deus e as riqueza, a aplicação é de grande alcance. Não pode haver concorrentes no coração do crente. Devemos constantemente examinar nossas vidas e procurar concorrentes que possam disputar por nossa lealdade. Quando encontrarmos, devemos ter cuidado para lidar com eles severamente. Não devemos mostrar-lhes nem a menor compaixão. Se pouparmos esses concorrente, eles se tornarão farpas em nossos olhos e espinhos em nosso lado (Números 33:55). Nunca poderemos verdadeiramente servir a Deus, enquanto tais coisas estiverem em nossos corações. Nem mesmo as coisas mais preciosas para nós devem ser dispensadas da nossa censura. Jesus ensinou que é melhor que a nossa mão direita e olho direito sofram mutilação violenta do que permitir que eles se tornem pedras de tropeço para a vocação do verdadeiro discipulado (Mateus 5:29-30). Devemos repudiar qualquer coisa que impede-nos de buscar a Ele e sua vontade. Nossas vidas  e a eternidade estão em jogo! O comentário da Bíblia do Expositor conclui que:

“Tanto Deus quanto o dinheiro são retratados, não como empregadores, mas como proprietários de escravos. Um homem pode trabalhar para dois empregadores, mas uma vez que “a propriedade única e serviço em tempo integral são a própria essência da escravidão “(Tasker), ele não pode servir a dois senhores de escravos. Ou Deus é servido com uma devoção única, ou Ele não é o senhor. Não é uma questão de lealdade dividida. O compromisso de discipulado parcial é na verdade um profundo compromisso com a idolatria”.

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traduzido por Beatriz Rustiguel da Silva
Capa: Beatriz Rustiguel

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