por F. Solano Portela Neto
II. DISTORÇÕES VERIFICADAS NA LEMBRANÇA
DA REFORMA
Muitos de nós, que crescemos neste país
de maioria católica, já ouvimos, numa ou noutra ocasião, alguma posição
distorcida tanto sobre os fatos da Reforma do Século XVI quanto sobre os
Reformadores. Uma das versões comuns, na visão da Igreja Católica, apresenta
Lutero como um monge que queria casar-se e que por isso teria brigado com o
Papa. Outros dizem que Lutero ambicionava o poder político; e ainda outros
falam que Lutero era apenas um místico rebelde, sem convicções reais e
profundas. Até mesmo a descrição dele como doente da alma, psicopata, enganador
e falso profeta permanece em vários escritos de historiadores famosos do
período. Um famoso autor e historiador católico brasileiro chegou a escrever
que "excomungado em Worms, em 1521, Lutero entregou-se ao ócio e à
moleza."
Em anos mais recentes, um novo tipo de
abordagem da Reforma tem surgido nos círculos católicos, embora continue
representando alguma forma de distorção. Por exemplo, em 1983, quando se
completaram 500 anos desde o nascimento de Lutero, o Papa participou de algumas
cerimônias comemorativas do evento na Alemanha. Certamente o Papa não fez por
convencimento das verdades ensinadas por Lutero, pois a igreja que representa
nada mudou doutrinariamente após a sua participação. A visita do Papa
evidencia, entretanto, uma comprovação de que a imagem de Lutero e os
princípios que pregava estão sendo alvos de um revisionismo histórico para fins
de distorções. Diluir a força das doutrinas que Lutero pregava possibilita uma
aproximação com os fatos históricos descontextualizados.
Em 1967, nos 450 anos da Reforma, a
revista TIME escreveu o seguinte: "O domingo da Reforma está se tornando
um evento ecumênico que olha para o futuro, em vez de para o passado." Na
mesma ocasião, um semanário jesuíta fez esta afirmação: "Lutero foi um
profundo pensador espiritual que foi levado à revolta por papas mundanos e
incompetentes." Essas colocações fazem da Reforma uma revolta contra pessoas
individuais e não contra um sistema de doutrinas de uma igreja apóstata, que
continua persistindo em seus conceitos e práticas divorciados da Palavra de
Deus.
Refletindo o sentimento ecumênico que tem
permeado a segunda metade do século XX, bispos das Igrejas Católica e Luterana
dos Estados Unidos fizeram uma declaração solidária, no aniversário da Reforma,
dizendo o seguinte: "…recomendamos um programa conjunto, entre os membros
de nossas igrejas, de estudos, reflexão e oração." Podemos imaginar os jesuítas,
consciente e sinceramente, fazendo orações, estudos e reflexões em comemoração
à Reforma do Século XVI? Certamente isso só seria possível se os jesuítas
ignorassem os pontos doutrinários fundamentais levantados pelos Reformadores.
Refletindo uma visão político-sociológica
da Reforma, uma outra distorção permeou, durante muito tempo, o pensamento
revisionista da história. Na época em que o comunismo ainda imperava na Europa
Oriental, porta-vozes do partido comunista da Alemanha relembraram Lutero como
sendo "um precursor da revolução."
FONTE: (Publicado em O Presbiteriano Conservador na edição de Setembro/Outubro de 1997)
retirado de http://www.monergismo.com/
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