domingo, 16 de outubro de 2011

A Mensagem da Reforma para os Dias de Hoje (parte 2)


por F. Solano Portela Neto

II. DISTORÇÕES VERIFICADAS NA LEMBRANÇA DA REFORMA
Muitos de nós, que crescemos neste país de maioria católica, já ouvimos, numa ou noutra ocasião, alguma posição distorcida tanto sobre os fatos da Reforma do Século XVI quanto sobre os Reformadores. Uma das versões comuns, na visão da Igreja Católica, apresenta Lutero como um monge que queria casar-se e que por isso teria brigado com o Papa. Outros dizem que Lutero ambicionava o poder político; e ainda outros falam que Lutero era apenas um místico rebelde, sem convicções reais e profundas. Até mesmo a descrição dele como doente da alma, psicopata, enganador e falso profeta permanece em vários escritos de historiadores famosos do período. Um famoso autor e historiador católico brasileiro chegou a escrever que "excomungado em Worms, em 1521, Lutero entregou-se ao ócio e à moleza."

Em anos mais recentes, um novo tipo de abordagem da Reforma tem surgido nos círculos católicos, embora continue representando alguma forma de distorção. Por exemplo, em 1983, quando se completaram 500 anos desde o nascimento de Lutero, o Papa participou de algumas cerimônias comemorativas do evento na Alemanha. Certamente o Papa não fez por convencimento das verdades ensinadas por Lutero, pois a igreja que representa nada mudou doutrinariamente após a sua participação. A visita do Papa evidencia, entretanto, uma comprovação de que a imagem de Lutero e os princípios que pregava estão sendo alvos de um revisionismo histórico para fins de distorções. Diluir a força das doutrinas que Lutero pregava possibilita uma aproximação com os fatos históricos descontextualizados.

Em 1967, nos 450 anos da Reforma, a revista TIME escreveu o seguinte: "O domingo da Reforma está se tornando um evento ecumênico que olha para o futuro, em vez de para o passado." Na mesma ocasião, um semanário jesuíta fez esta afirmação: "Lutero foi um profundo pensador espiritual que foi levado à revolta por papas mundanos e incompetentes." Essas colocações fazem da Reforma uma revolta contra pessoas individuais e não contra um sistema de doutrinas de uma igreja apóstata, que continua persistindo em seus conceitos e práticas divorciados da Palavra de Deus.

Refletindo o sentimento ecumênico que tem permeado a segunda metade do século XX, bispos das Igrejas Católica e Luterana dos Estados Unidos fizeram uma declaração solidária, no aniversário da Reforma, dizendo o seguinte: "…recomendamos um programa conjunto, entre os membros de nossas igrejas, de estudos, reflexão e oração." Podemos imaginar os jesuítas, consciente e sinceramente, fazendo orações, estudos e reflexões em comemoração à Reforma do Século XVI? Certamente isso só seria possível se os jesuítas ignorassem os pontos doutrinários fundamentais levantados pelos Reformadores.

Refletindo uma visão político-sociológica da Reforma, uma outra distorção permeou, durante muito tempo, o pensamento revisionista da história. Na época em que o comunismo ainda imperava na Europa Oriental, porta-vozes do partido comunista da Alemanha relembraram Lutero como sendo "um precursor da revolução."

FONTE: (Publicado em O Presbiteriano Conservador na edição de Setembro/Outubro de 1997) 

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