Tomado do livro Words of Cheer for Daily Life
Charles H. Spurgeon - 1890
Assim como o sofrimento de Cristo habita em nós, de
igual modo habitam as consolações de Cristo. Esta é uma proporção abençoada.
Deus mantém sempre duas balanças – de um lado Ele coloca as tribulações do seu
povo e do outro põe as consolações.
Quando a balança da tribulação está quase vazia, você
sempre encontrará a balança do consolo praticamente na mesma condição. Esta é
uma observação prática na vida. É o mistério de que quando vem a noite, as
luzes brilham mais. Quando vem a tempestade é quando o comandante do barco mais
se aproxima de sua tripulação. É uma benção o fato de que quando estamos mais
deprimidos é quando mais podemos ser elevados pelo consolo de Cristo.
As dificuldades abrem mais espaço para o consolo. Nada
existe que torne mais generoso o coração de um homem do que uma grande
dificuldade. Sempre observei que as pessoas miseráveis, mesquinhas, com um
coração do tamanho de um grão de mostarda, nunca enfrentaram grandes
dificuldades. Tenho visto que as pessoas
que não têm misericórdia para com seus semelhantes – que nunca choram com a
tristeza dos outros – muito poucas vezes sofreram grandes problemas. Os
corações grandes só são criados por grandes dificuldades. A enxada da
dificuldade cava mais fundo o reservatório do consolo. Deus vem ao nosso
coração – e o encontra cheio – e se começa a esvaziar o nosso conforto - é para
que surja mais espaço para a graça. Quanto mais humilde for o homem, mais
conforto ele terá.
Quanto mais abaixados estivermos, mais próximos do
chão estivermos, mais nossas dificuldades nos tornarão humildes – e tanto mais
estaremos habilitados a receber consolo, e Deus sempre nos dá o conforto quando
mais precisamos dele. Esta é uma razão porque o consolo aumenta na proporção de
nossas dificuldades.
Onde mais cai a chuva mais cresce a grama verde. Não
diga que as flores morreram, que o inverno acabou com elas, que elas
desapareceram. Mesmo que o inverno as tenha coberto com seu manto de neve, elas
vão ressurgir de novo em toda a sua beleza. Não diga que o sol desapareceu
apenas porque ele foi encoberto pelas nuvens. Ele continua lá atrás, aquecido
para o verão que virá até você, e quando ele vier as nuvens serão desfeitas em
chuvas, que irão de novo regar as flores.
Acima de tudo, quando parecer que Deus escondeu o Seu
rosto divino, não diga que Ele esqueceu de você; Ele está demorando para que
você o ame mais ainda, e quando Ele vier você irá se alegrar no Senhor, com
indescritível felicidade. A espera desenvolve nossa graça; a espera testa nossa
fé. Espere, pois, com esperança; pois ainda que a promessa tarde, ela nunca
virá tarde demais.
Uma outra razão para nos sentirmos melhor com nossas
dificuldades é que nestas ocasiões nos aproximamos mais de Deus. Quando os celeiros estão cheios, o homem pode
viver sem Deus; quando a carteira está estufada com dinheiro, nós até podemos
passar sem oração. Mas quando nosso bem-estar ou nossos bens são perdidos, é
quando queremos nosso Deus; quando os ídolos terrenos que adoramos em nossas
casas são removidos, queremos ir adorar Jeová.
Alguns de nós não oramos a metade do que deveríamos.
Quando tudo vai bem esquecemos de Deus. DEUTERONOMIO
32:15 - MAS, ENGORDANDO-SE O MEU AMADO, DEU COICES; ENGORDOU-SE, ENGROSSOU-SE,
FICOU NÉDIO E ABANDONOU A DEUS, QUE O FEZ, DESPREZOU A ROCHA DA SUA SALVAÇÃO.
Mas cessem suas esperanças, desapareçam suas alegrias, repouse seu filho em um
caixão, sejam dizimadas suas colheitas, fuja o seu rebanho do curral,
desapareça o chefe da família, fiquem os filhos órfãos – e aí então Deus será o
Deus. SALMO 130:1 – DAS PROFUNDEZAS
CLAMO A TI, SENHOR. ESCUTA, SENHOR, A MINHA VOZ; ESTEJAM ALERTAS OS TEUS
OUVIDOS ÀS MINHAS SÚPLICAS.
Não existe súplica maior do que aquela que surge do pé
da montanha, nenhuma prece maior do que a vem do fundo da nossa alma sofrida e
aflita. E é por isso que ela mais nos aproxima de Deus, e nos alegramos por
estarmos próximos de Deus. Por isso, quando aumentam nossas tribulações elas
nos levam a Deus e é então que o consolo Divino nos enlaça.
Há quem chame as dificuldades de um peso enorme. E é o
que são na verdade. Um navio que tenha grandes velas e navegue com vento forte
precisa de um lastro. As dificuldades são o lastro de um crente. Os olhos são
as bombas que lançam fora de sua alma a água que o vai inundando, o que o
impede de afundar. O arreio é que prende o cavalo e evita que pule fora da
cerca, como são sempre tentados a fazer. Arreios são necessários para evitar
que se percam, e por isso Deus prende com aflições aqueles a quem quer manter
perto de Si, para preservá-los em
sua Divina presença. Abençoado seja o fato de que quando
nossas aflições crescem, cresce também o nosso consolo.
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