segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Comentário de João 14:4-11 (J.C.Ryle)

J.C.Ryle
"Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. João 14:4-11"

Deve-se notar nesses versículos quanto que Jesus fala melhor dos crentes do que eles mesmos falam de si. Ele disse a seus discípulos que eles sabiam aonde Ele ia, e conheciam o caminho. No entanto, Tomé diz "nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?" Essa contradição, que é mais aparente do que real, exige uma explicação. É verdade, sob certo aspecto, que os conhecimentos dos discípulos era muito pequeno. Sabiam muito pouco antes da crucificação e da ressurreição, em comparação com o que deveriam ter conhecido e com o que souberam no dia de Pentecostes. Grande e surpreendente era sua ignorância sobre o fim que que havia proposto nosso Senhor ao vir à terra, e sobre o verdadeiro significado de Sua paixão e morte. Poderia ter-se dito com razão que não conheciam senão em parte, e que eram bebês em inteligência. 

No entanto, sobre outro ponto de vista, os conhecimentos dos discípulos eram vastos. Eles sabiam mais do que a grande maioria da nação judaica, e aceitavam verdades que os escribas e fariseus rejeitavam completamente. Comparados com aqueles que os rodeavam, eram homens ilustres no sentido mais elevado da palavra. Sabiam e criam que seu Mestre era o Messias prometido, o Filho do Deus vivo, e que crer Nele era o primeiro passo até o céu. Todo mérito é relativo: em vez de menosprezar aos discípulos por conta de sua ignorância, cuidemos de não formar um juízo errado sobre o saber deles. Sabiam mais do que eles mesmo imaginavam conhecer.

Observemos , em segundo lugar, que glorioso título nosso Senhor deu a si mesmo: "Eu sou o caminho, e a verdade e a vida". Será que o homem alguma vez chegará a compreender completamente essas palavras. Qualquer exame que delas seja feito tem que ser realmente muito ligeira em seu sentido amplo.

Jesus é "o caminho" - o caminho que conduz ao céu. Não é somente guia, mestre e legislador como Moisés; mas é também O caminho pelo qual podemos nos aproximar de Deus. Por meio da expiação feita na cruz, Ele abriu o caminho que conduz a árvore da vida e que havia sido bloqueado quando Adão e Eva caíram.

Jesus Cristo é "a verdade", quer dizer, toda a essência dessa religião verdadeira que exige o entendimento humano. Sem Ele os pagãos mais sábios andaram tateando entre as trevas, e jamais chegaram a conhecer a Deus. Antes de Sua vinda até mesmo os judeus viam a verdade espiritual como que através de um espelho embaçado, e não percebiam com clareza o significado dos símbolos, emblemas e cerimonias da lei Mosaica. Cristo é a verdade e satisfaz todo desejo, anseio e aspiração da mente humana.

Jesus Cristo é "a vida": mediante Ele é que o pecador poder receber o perdão e obter um título para receber o dom da vida eterna. Ele é, alem disso, a fonte da vida espiritual e da santidade do crente, e por Ele é que esse tem segurança de sua ressurreição, O que crê em Cristo possui vida eterna. O que se junta a vide, produz muito fruto. O que confia Nele, ainda que estivera morto, viverá.

Notemos, em terceiro lugar, qual expressamente Jesus Cristo exclue todo meio de salvação que não seja o assinalado pelo Evangelho. "Ninguém vem ao Pai" Ele disse "senão por mim".

De nada serve ao homem ser inteligente, ilustre, amavél, caridoso, de bom coração, e zeloso em materia religiosa, se não se acerca a Deus implorando a mediação de seu Filho. Deus é tão santo que a Seus olhos todos os homens são culpáveis, e o pecado é em si mesmo tão mal que nehum homem  pode expia-lo. É necessário que haja entre Deus e nós um mediador, um redentor - do contrário, jamais poderemos ser salvos. Não há senão um Juiz de paz entre a terra e o céu: o Filho crucificado de Deus. O que entrar pela porta que Ele abre, se salvará; porem, ao que recusar entrar por ela, a Bíblia não oferece esperança alguma. Sem   derramamento de sangue não há remissão.

Devemos notar, por último, qual estreita e misteriosa é e união de Deus Pai e Deus Filho. Por quatro vezes nós é repetida essa verdade em palavras inequivocas. "Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai" e "Quem me vê a mim vê o Pai" e "eu estou no Pai, e que o Pai está em mim" e "o Pai, que está em mim, é quem faz as obras".

Expressões como essas são profundamente misteriosas. Não é possivel sondar seus significados, nosso entendimento não alcança compreendê-las, a linguagem humana não alcança expressá-las. Não podendo explicar, devemos nos contentar com crer; não podendo interpretar  devemos nos contentar em admirar e reverenciar. Nos basta saber que o Pai é Deus, e o Filho é Deus, e que, no entanto, são uma só substância, ainda que distintos em pessoa.

Não obstante, deve nos consolar a verdade de que Jesus Cristo é o verdadeiro Deus de Deus verdadeiro, igual em tudo ao Pai e Um com Ele. Ele que nos amou até ao extremo de derramar seu sangue por nós na cruz, não é um mero homem como nós, mas é Deus sobre todos, bendito para sempre. Ainda que nossos pecados forem como a escarlate, Ele pode embranquecê-los como a neve.

NOTAS:

v.4-"vós sabeis para onde vou" Jesus pronunciou evidentemente essas palavras para infundir ânimo no coração de seus discípulos, lhes recordando o que lhes havia dito repetidas vezes.

v.6-"Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho" Nenhum mestre, profeta ou apostolo empregou palavras semelhantes a essas. O que as pronunciou sabia que era Deus.

v.8-"Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta" Não nos é dito o que moveu Felipe a fazer essas suplica. Quem dera, a semelhança de Moises, ele e os outros discipulos estavam animados de um piedoso desejo de obter uma revelação mais completa da glória da dinvidade, como prova da missão de seu Mestre. (Ex. 30:18) ou quem save nos tenha transmitido essa petição para que compreendamos como eram confusas as idewias que os apostolos tinham sobre a natureza de seu Mestre.

v.9-"Quem me vê a mim vê o Pai" Quer dizer 'O que me contemplou com fé, e compreendendo que sou o eterno Filho, o divino Messias, há visto ao Pai, de quem sou a expressa imagem, tanto como o homem pode ver."


10- "As palavras que eu vos digo ...o Pai, ..., é quem faz as obras." Quer dizer: ao pronunciar minhas palavras e ao executar minhas obras não prescindo do Pai. O Pai, que mora em mim, fala em mim e trabalha em mim. Minhas palavras e minhas obras me foram designadas no eterno conselho que teve lugar entre o Pai e o Filho. Tanto o falar como o fazer a obra o Pai e eu somos um - e o que eu falo, Ele fala - e o que eu obro, Ele obra.


v.11 "Crede-me, etc" O verbo está no plural. Nosso Senhor não se dirigiu a Felipe somente, mas sim a todos os apóstolos. "Crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras" Nisso nosso Senhor manifestou sua indulgência para com os discípulos.


FONTE: Comentário ao Evangelho de João.
Tradução: Armando Marcos
Los Evangelios Explicados
Volumen Segundo, Juan
J.C. C Ryle
Libros CLIE
Galvani, 115, Terrassa (Barcelona)


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