por Armando Marcos
Hoje em dia no Brasil creio que não temos lá muito costume de comemorar as datas dos feriados: talvez com excessão do Natal, Páscoa e Carnaval, os outros a grande maioria das pessoas gosta de viajar ou ficar em casa. Claro, porem, que os feriados tem algum significado, e sempre tem quem comemore eles: amanhã é feriado nacional em respeito a tradição católica romana do Corpus Christi, mas você sabe do que essa festa se trata? Talves se você foi católico, até mesmo já tenha participado de procissões de Corpus Christ até, mas você tem ideia o do porque dessa comemoração?
Vamos só considerar alguns pontos (pois o assunto é extenso demais para uma postagem, e creio que muitos outros podem falar mais disso: aqui são só algumas poucas abordagens)
I - Essa festa tem suas bases na Idade Média: segundo Elias Oliveira:
A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. O Papa Urbano IV foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège na Bélgica, que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon, que exigiam uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico.
Juliana nasceu em Liège em 1192 e participava da paróquia Saint Martin. Com 14 anos, em 1206, entrou para o convento das agostinianas em Mont Cornillon, na periferia de Liège. Com 17 anos, em 1209, começou a ter ‘visões’, (que retratavam um disco lunar dentro do qual havia uma parte escura. Isto foi interpretado como sendo uma ausência de uma festa eucarística no calendário litúrgico para agradecer o sacramento da Eucaristia). Com 38 anos, em 1230, confidenciou esse segredo ao arcediago de Liège, que 31 anos depois, por três anos, será o Papa Urbano IV (1261-1264), e tornará mundial a Festa de Corpus Christi, pouco antes de morrer.
Portando, a festa já começa errada: ela não tem base nas Escrituras para ter razão de ser - se bem que, de acordo com a tradição católica, ela é válida, essa "tradição" tem poderes de validade doutrinas que nem constem nas Escrituras mesmo - mas mesmo assim, essa festa tem origem em sonhos que tem por base ideias equivocadas sobre o papel da Ceia do Senhor para a Igreja.
II. Analisemos agora a fonte da festa, o grande erro da Transubstânciação: basicamente, se crê que pela consagração do Sacerdote, o pão e o vinho se transformam literalmente em corpo e sangue de Cristo; por conta de algumas premissas erroneas, como que quando Lucas diz "E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim.
Lucas 22:19" essa frase "Isto é meu corpo" teria poder autoritativa de tal ideia de que necessariamente o pão e o vinho (posteriomente) se transformem em corpo. Contra a premissa de que o corpo estaria fisicamente nos elementos do sacramento, J.C.Ryle bem diz no sermão "A Presença Real e Verdadeira":
"Quando nosso Senhor ressurgiu dentre os mortos, Ele ressuscitou com um corpo humano real — um corpo que não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo — um corpo a respeito do qual os anjos disseram: “Ele não está aqui, mas ressuscitou” (Lc 24.6). Nesse corpo, depois de completar Sua obra redentora sobre a terra, Ele ascendeu visivelmente ao céu. Ele subiu com o seu corpo, e não o deixou para trás, como o manto de Elias. Esse corpo, no final, não ficou no túmulo, e não virou pó e cinza nalguma vila da Síria, como o corpo dos santos e mártires. O mesmo corpo que caminhou nas ruas de Cafarnaum, e sentou-se na casa de Maria e Marta, e foi crucificado no Gólgota, e foi depositado na tumba de José — esse mesmo corpo — indubitavelmente glorificado depois da ressurreição — mas ainda real e material — foi elevado até o céu, e ali está neste exato momento."
Isso tudo, obviamente, com o passar do tempo, foi criando a clara impressão que os elementos da Eucaristia tinham em si mesmos, consagrados, uma aurea de divindade que claramente são indevidas, pelo fato de que obviamente o corpo em si de Cristo estar nos céus, e só sua presença ser prometida a Igreja de forma espiritual. Durante séculos milhares tem chegado ao ponto de reverenciar idolatricamente o pão e o vinho da comunhão (em especial o pão) como se eles mesmo, como corpo de Cristo, fossem de fato o próprio Cristo, pondo sua esperança no "lado errado" da coisa. como bem diz o Livro de Orações da Igreja da Inglaterra: “O pão
sacramental e o vinho mantêm suas propriedades naturais, e por essa causa não devem ser adorados (pois isso é idolatria, e deve ser detestada por todo
cristão fiel); e o corpo e o sangue naturais de nosso Salvador Cristo estão no
céu, e não aqui na terra; não é verdade que o corpo natural de Cristo está, ao
mesmo tempo, em mais do que um lugar.”
III. Alem disso, a ideia do sacrifício sem sangue (incruento) de Cristo tambem dá base: como exemplo, vamos selecionar uma citação do Catecismo da Igreja Católica Romana diz "
§1367 O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: "É uma só e mesma vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se ofereceu a si mesmo então na cruz. Apenas a maneira de oferecer difere"
".
Os Reformadores recusaram tais ideias: é verdade que eles não entraram em acordo se os elementos realmente de alguma forma não se tornava (não substâncialmente) em corpo e sangue de Cristo (no caso de Lutero) ou se eram mero Memorial (Zwinglio) , conquanto concorde que Calvino sintetizou muito bem a questão (que o pão e o vinho não se transformam e corpo e sangue de Cristo literalmente, mas que a Ceia do Senhor não é apenas um memorial, mas um meio de dar benefícios da graça para o crente). Contudo, essas posições devem ter abalado seriamente a ideia católica, a ponto de fazerem com que o Concilio de Trento: "fortalecesse o decreto da instituição da Festa de Corpus Christi, obrigando o clero a realizar a Procissão Eucarística pelas ruas da cidade, como ação de graças pelo dom supremo da Eucaristia e como manifestação pública da fé na presença real de Cristo na Eucaristia. (Elias Oliveira)"
E Aqui, não consideramos que a Igreja repete o sacrifício de Cristo, pois ela mesmo confessa que não faz: o problema mesmo é na ideia de intercessão sacerdotal por meio de um sacrifício eucarístico como efetivamente "aplicador" dos benefícios dessa expiação em si mesmos. Isso foge até mesmo a ideia da palavra Eucaristia, que quer dizer "Ação de Graças" em grego.
É evidente que a Igreja Católica Romana, como demonstrado na citação do Catecismo, erra quanto a entender como que o sacrificio de Cristo é mediado em nosso favor: a Ceia não tem esssa função nela mesma ou pela própria consagração e magica trasnformação dela; antes, o sacrifício de Cristo não pode ser mediado por sacerdotes humanos, por meio de uma extensão do sacrificio de Cristo, e sim pelo sacrificio em si, pela fé em Cristo e na sua expiaçao na cruz. A Ceia nos favorece com Cristo no sentido espiritual, como bem diz Cristo que "O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida. (João 6:63)" Ryle bem diz sobre isso de favorecimento ao afirmar:
"O comer
do pão com fé faz o crente sentir comunhão mais chegada com o corpo de Cristo.
O beber do vinho com fé faz o crente sentir comunhão mais chegada com o sangue
de Cristo. Aquele que comunga vê mais claramente aquilo que Cristo é para
ele, e o que ele é para Cristo."
Biblicamente, devemos ter sim a presença de Cristo em nós e conosco, (Ef
3.17) (Jo 14.23), mas não por meio dos elementos da Ceia, nem crer que eles em si são uma extensão do sacrificio de Cristo por mediação da Igreja em si (pois ela não tem esse poder, mesmo considerando a doutrina da intercessão dos Santos de acordo ao catolicismo romano) e sim pelo que poderia dizer, a razão de ser deles.
FONTES:
Sermão "A Presença Real e Verdadeira" de J.C.Ryle, em Projeto Ryle
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