Uma perspectiva bíblica sobre o cuidado de animais

Por Frank Brito

Sobre o caso da enfermeira que matou o cachorro na pancada em Goiânia, ai vai uma reflexão que eu escrevi sobre animais dentro de uma perspectiva bíblica: 

O homem não está a serviço da terra e dos animais, mas a terra e os animais estão a serviço do homem. Mas tanto um quanto o outro estão a serviço de Deus. O homem foi delegado por Deus pra cuidar da terra (Gênesis 1.28) e por isso tem o direito de usufruir dela, mas estando sob a jurisdição de Deus não pode agir como um soberano absoluto, fazendo qualquer coisa que queira mas é limitado pelos mandamentos de Deus. Sobre os animais, Deus ordenou: "Se encontrares pelo caminho, numa árvore ou no chão, um ninho de ave com passarinhos ou ovos, e a mãe posta sobre os passarinhos, ou sobre os ovos, não tomarás a mãe com os filhotes; sem falta deixarás ir a mãe, porém os filhotes poderás tomar; para que te vá bem, e para que prolongues os teus dias". (Deuteronômio 22.6-7) Veja a preocupação de Deus com a preservação dos animais. A preservação da mãe no lugar dos filhotes é porque os filhotes não poderiam sobreviver sozinhos se fossem simplesmente deixados pra trás sem a mãe. Por isso, o homem tem o direito de levar os filhotes, pois a mãe poderá se preservar e gerar mais filhos. Veja que está anexada a promessa "para que te vá bem, e para que prolongues os teus dias". O único outro mandamento em que vemos essa promessa anexada é no quinto mandamento - honrar o pai e a mãe. Segue-se, portanto, que a consideração pelos animais tem relação direta com a preservação dos homens na terra e que a falta de consideração por eles tem relação direta com juizos de Deus sobre o homem.

Vemos essa consideração pelos animais também no quarto mandamento. Quando Deus ordena o descanso, ele diz: "nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu". Apesar de estar verdadeiramente a serviço do homem, há um limite, os animais não podem ser explorados e têm determinados direitos... inclusive de descanso e também de ser alimentado adequadamente: "Não atarás a boca ao boi quando estiver debulhando". (Deuteronômio 25.4) Como diz o Provérbios: "O justo olha pela vida dos seus animais; porém as entranhas dos ímpios são crueis". (Provébios 12:10)

Além disso, vemos na Bíblia a preocupação de Deus com a preservação de vegetação que poderá ser utilizada para o benefício humano: "Quando sitiares uma cidade por muitos dias, pelejando contra ela para a tomar, não destruirás o seu arvoredo, metendo nele o machado, porque dele poderás comer; pelo que não o cortarás; porventura a árvore do campo é homem, para que seja sitiada por ti? Somente as árvores que souberes não serem árvores cujo fruto se pode comer, é que destruirás e cortarás..." (Deu 20:19-20)

O mais importante disso tudo é que a devastação irracional e o desprezo para a natureza causa sérios problemas para a vida humana de maneira que a vida humana é posta em jogo. Não devemos favorecer aquilo que põe a vida humana em jogo, mas devemos buscar "que prolongues os teus dias". Deus nos deu a terra pra cuidarmos e dominarmos. Não pra destruirmos. A propriedade é dele, não nossa. Não temos o direito de destruir propriedade alheia.

Um fato histórico interessante é que cristãos protestantes estavam entre os pioneiros de leis que tratavam do problema de crueldade contra animais (em 1641 em Massachussets e em 1654 na Inglaterra). Foi baseado na obra do Pastor Nathaniel Ward, contrariando o humanista René Descarte que defendia que animais eram incapazes de sentir dor.

Se achamos que esse mandamento é pequeno demais para que tenhamos preocupações com ele, vale a reflexão: "Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus". (Mateus 5,19)

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