Nº 169
Sermão pregado na manhã de Domingo, 27 de
Dezembro de 1857
por Charles Haddon Spurgeon
No Music Hall,
Royal Surrey Gardens, Londres.
"O
que
eu fiz?" Jeremias 8:6 [1]
Talvez
nenhuma outra figura que represente Deus sob uma luz mais agraciada, que essas
figuras de linguagem que O mostram inclinando-se do Seu trono, e descendo do
céu para suprir as necessidades e considerar as aflições da humanidade. Temos
que amar esse Deus que, quando Sodoma e Gomorra transpiravam iniquidade, não
queria destruir essas cidades, ainda que conhecesse sua culpa e sua maldade, até
que não as tivesse visitado e transitado durante um tempo por suas ruas.
Penso
que não podemos evitar derramar nosso coração em afeto por esse Deus, que
inclina Seu ouvido desde a glória mais sublime, e o põe junto ao lábio do mais
fraco indivíduo que expresse um desejo sincero.
Como
poderíamos resistir ao sentimento que Ele é um Deus a quem devemos amar, quando
sabemos que presta atenção a tudo o que diz respeito a nós, que conta os
próprios cabelos de nossa cabeça, que pede aos anjos que protejam nossos passos
para que nossos pés não tropecem nas pedras, que sinaliza nosso caminho e
ordena nossos caminhos?
Mas
esta verdade grandiosa se achega especialmente ao coração do homem, quando
recordamos quão solícito é Deus, não meramente no que se refere aos interesses
temporais de Suas criaturas, mas sim no concernente aos seus interesses
espirituais. Deus é representado na Escritura como “aguardando para abençoar”,
ou, na linguagem da parábola, como vendo a Seus filhos pródigos ainda quando
estão longe, correndo e jogando-se em Seu pescoço e beijando-os. Ele está tão
atento a tudo o que é bom no coração do pobre pecador, que para Ele há música em
um suspiro, e beleza em uma lágrima; e neste versículo que acabo de ler, Ele se
representa como vendo o coração do homem e escutando: escutando como se pudesse
ouvir algo que fosse bom. "Eu
escutei e ouvi, escutei; fiquei quieto e estive atento a eles." E quão
amigável se mostra Deus, quando é representado como que voltando-se para o
lado, e por dizê-lo assim, exclamando com dor em Seu coração: "Em verdade escutei e em verdade ouvi;
não falam o que é reto; ninguém há que se arrependa de sua maldade, dizendo: O que eu fiz?"
Ah,
querido leitor, tu nunca acolhes um desejo para Deus que não anime a esperança
de Deus; jamais pronuncias uma oração dirigida ao céu que Ele não esteja
atento; e ainda que muito frequentemente tu tenhas sussurrado orações que foram
como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada que logo se desvanecem,
contudo, todas estas coisas comoveram as entranhas de Jeová; pois Ele tem
escutado teu clamor e tem prestado atenção ao suspiro de tua alma, e ainda que
tudo tenha se desvanecido, não passou despercebido, pois Ele lembra muito bem
mesmo nesse momento.
E,
oh, tu que neste dia estás buscando um Salvador, recorda que os olhos desse
Salvador estão postos hoje em tua alma buscadora! Não estás buscando a alguém
que não possa te ver; estás vindo ao teu Pai, e teu Pai te vê à distância.
Somente uma lágrima rolou por tua face, mas teu Pai a tomou com um sinal de
esperança; somente uma batida sacudiu teu coração há um instante quando se
cantava o hino, mas Deus, o Amante, estava atento inclusive a isso e o
considerou ao menos como um presságio de que não estás tão endurecido pelo
pecado, nem descartado pelo amor e a misericórdia.
O
texto é: "O que eu fiz?"
Introduzirei somente com algumas palavras
de persuasão afetiva, exortando a todos os presentes a que se façam essa
pergunta. Em segundo lugar, lhes direi algumas
palavras de ajuda, tratando de responder essa pergunta; e tendo feito isso,
concluirei com umas quantas frases de
solene admoestação para aqueles que tiveram uma resposta adversa.
I. Primeiro,
então, alguma palavras de SINCERA PERSUASÃO, solicitando a cada um dos que
estão agora presentes, e mais especialmente a cada pessoa não convertida, que
se façam a pergunta e a respondam solenemente: "O que eu fiz?"
Poucas
pessoas gostam de tomar a moléstia de revisar suas próprias vidas. A maioria
das pessoas está tão perto da bancarrota que se envergonha de revisar sua
própria contabilidade. A grande maioria da humanidade se assemelha ao néscio
avestruz, que, quando é perseguido de perto pelos caçadores, enterra sua cabeça
na areia e fecha seus olhos, e pensa que pelo fato de não ver seus
perseguidores, então está seguro. Grande parte da humanidade, repito, se
envergonha de revisar sua própria biografia; e se a consciência e a memória
pudessem converter-se em co-autoras de uma história de suas vidas desde o
princípio até o fim, comprariam um grande ferrolho de ferro e um cadeado e
encerrariam o volume, pois não se atreveriam a lê-lo. Sabem que é um livro
cheio de lamento e aflição, que não se atreveriam a ler, e permanecem ainda em
suas iniquidades.
Eu
tenho, portanto, uma difícil tarefa ao tratar de persuadir a cada um de vocês a
que peguem o livro; sem importar que suas páginas sejam umas quantas ou muitas,
ou que sejam brancas ou negras, me resultará difícil induzi-los a que leiam
tudo.
Mas
peço que o Espírito Santo te persuada agora a que respondas a esta pergunta:
"O que eu fiz?" Pois,
recorda, meu querido amigo, que esquadrinhar-te a ti mesmo não pode te causar
nenhum dano. Nenhum comerciante jamais empobrece por revisar seus livros;
poderia descobrir-se mais pobre do pensava, mas não é a revisão dos livros que
o empobreceu; ele se prejudicou por alguma prática comercial errada que ocorreu
antes.
Meu
amigo, é melhor que conheças o passado enquanto tenhas tempo para restaurá-lo,
e não que continues com teus olhos vendados, esperando entrar pelas portas do
Paraíso e descobrir teu erro quando, ai, já seja demasiado tarde porque a porta
está fechada. Não se perde nada fazendo um inventário; não podes piorar em nada
por causa de um breve auto-exame. Isto, em si mesmo, será um forte argumento
para te induzir a fazê-lo; mas recorda que podes estar muitíssimo melhor, pois,
considere que teus assuntos estejam bem com Deus: então podes estar muito feliz
e consolar-te, pois aquele que está bem com seu Deus não tem motivo para estar
triste.
Mas,
ah, relembre que existem muitas probabilidades de que estejas mal. Há tantas
pessoas neste mundo que vivem enganadas, que existem altas probabilidades de
que estejas também enganado. Poderias ter um nome para a vida e ainda assim
estar morto; poderias ser como a árvore de John Bunyan, do qual disse:
"era formosa para ver-se e era verde por fora, mas seu interior estava
suficientemente podre para ser combustível na fogueira do diabo." Neste
dia poderias estar muito bem caiado diante de ti e diante de teus semelhantes,
e ser sumamente bonito, mas também poderias ser este fariseu de quem Cristo
disse: "...sois semelhantes aos
sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente
estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia."
Agora,
homem, ainda que tu queiras ser enganado, de minha parte sinto que preferiria
mil vezes conhecer realmente meu próprio estado, em vez de ter as imagens mais
agradáveis sobre esse estado e descobrir-me enganado.
Muitas
vezes sussurrei solenemente esta oração: "Senhor, me ajude a conhecer o
pior de mim; se ainda sou um apóstata de Ti, sem Deus e sem Cristo, ao menos
faz com que eu seja honesto comigo mesmo e saiba o que eu sou."
Recorda,
meu amigo, que o momento disponível para que faças um auto-exame é, depois de
tudo, muito breve. Logo saberás o grande segredo. Talvez eu não pronuncie
palavras suficientemente fortes para romper a máscara que agora tens sobre ti,
mas há alguém que se chama Morte que não aceitará nenhuma lisonja. Poderias
disfarçar-te hoje com as vestes de um santo, mas a morte logo te desnudará, e
estarás diante do tribunal depois que a morte haja descoberto toda tua nudez,
seja esta nudez inocência ou culpa.
Recorda,
também, que ainda que tu possas enganar a ti mesmo, não enganarás ao teu Deus.
Tu poderias sentir pequenas cargas, e o fiel da balança na qual és pesado
poderia não ser honesto, e poderia, portanto, não te dizer a verdade; mas
quando Deus te julgue não fará concessões; quando o eterno Jeová tome a balança
da justiça e ponha Sua lei em um dos pratos, ah, pecador, como tremerás quando
te ponha a ti no outro! Pois, a menos que Cristo seja teu Cristo, te
encontrarás leve de peso: pesado serás na balança e serás encontrado em falta.
Oh,
que palavras adotarei para induzir a cada um de vocês a que se examinem agora!
Conheço as várias desculpas que alguns de vocês apresentarão. Alguns
argumentarão que são membros de igrejas, e que, por tanto, não têm problemas.
Talvez
estejas me olhando de alguma das galerias, e me digas: "Sr. Spurgeon, suas
mãos me batizaram neste mesmo ano no Senhor Jesus, e periodicamente me passou o
pão e o vinho sacramentais." Ah, meu amigo, eu sei isso, e temo que
batizei a muitos, aos quais o Senhor não batizou jamais; e alguns de vocês que
foram sido recebidos na membresia da igreja na terra, jamais foram recebidos
por Deus. Se Jesus Cristo tinha um hipócrita entre Seus doze discípulos,
quantos hipócritas não terei aqui, entre cerca de mil e duzentas pessoas?
Ah,
queridos leitores, nesta época é muito fácil fazer uma profissão de religião:
muitas igrejas recebem candidatos à membresia sem nenhum exame de nenhum tipo;
algumas dessas pessoas vieram a mim, e eu lhes disse: "devo tratar-te da
mesma maneira como se houvesses vindo do mundo", porque me disseram:
"eu nunca vi ao pastor; eu escrevi uma nota à igreja, e eles me
receberam."
Na
verdade, nesta época de profissões de fé, um homem poderia fazer a profissão
mais elevada do mundo, e sem dúvida, ser contado com os apóstatas condenados no
final. Não se desviem da pergunta por essa causa; e não digam: "estou
demasiado ocupado para atender meus assuntos espirituais; todavia haja tempo
suficiente." Muitos disseram isso, e antes de que seu "tempo
suficiente" houvesse chegado, se encontraram onde o tempo não mais existe.
Oh,
tu que dizes que tens tempo suficiente, quão pouco sabes a proximidade de ti
com a morte! Há algumas pessoas aqui presentes que não verão o dia de ano novo;
há toda probabilidade de que um grande número de pessoas não verá outro ano.
Oh, que o Senhor nosso Deus nos prepare a cada um de nós para a morte e para o
juízo, e abençoe a exortação desta manhã para nossa preparação, conduzindo-nos
a fazermos a pergunta: "O que eu fiz?"
II. Então, agora
hei de ajudá-los a responder a pergunta: "O que eu fiz?"
Cristão,
cristão verdadeiro, tenho muito pouco que dizer-te esta manhã. Não vou
multiplicar minhas palavras, apenas deixarei a indagação à tua própria
consciência. Que fizeste tu? Ouço que respondes: "não fiz nada para
salvar-me a mim mesmo; pois isso foi feito para mim no pacto eterno, desde
antes da fundação do mundo. Não fiz nada para fazer justiça para mim, pois
Cristo disse: "Consumado está"; eu não fiz nada para alcançar o céu
por meus méritos, pois tudo isso Jesus fez por mim antes de que eu
nascesse."
Mas
diga-me irmão, que fizeste tu por Ele, que morreu para salvar tua alma
desventurada? Que fizeste pela Sua igreja? Que fizeste para a salvação do
mundo? Que fizeste para promover teu próprio crescimento espiritual na graça?
Ah!,
minha pergunta poderia arremeter duramente contra alguns de vocês que são
verdadeiros cristãos; mas os deixarei com seu Deus. Deus disciplinará Seus
próprios filhos. Contudo, farei uma pergunta direta. Acaso não há muitos
cristãos aqui presentes, que não podem recordar terem sido o instrumento de
salvação de uma única alma durante este ano? Vamos, revisa agora: tens alguma
razão para crer que direta ou indiretamente foste feito o instrumento da salvação
de uma alma neste ano?
Vou
mais adiante. Alguns de vocês são cristãos veteranos, e lhes farei esta
pergunta: têm alguma razão para crer que desde que foram convertidos foram
alguma vez o instrumento de salvação de uma alma? No oriente, na época dos
patriarcas, se considerava uma afronta que uma mulher não tivesse filhos; mas
para um cristão quão grande afronta é que não tenha filhos espirituais, que ninguém
tenha nascido para Deus por sua instrumentalidade!
E,
contudo, aqui há algumas pessoas que são espiritualmente estéreis, e não
trouxeram nenhum convertido a Cristo; não tem nem uma só estrela em sua coroa
de glória, e devem levar ao céu uma coroa sem estrelas.
Oh!
Parece-me ver o gozo e a alegria com que uma boa filha de Deus me olhou na
semana passada, quando escutamos de um que havia sido convertido por sua
instrumentalidade. A tomei pela mão e lhe disse: "bem, agora tens um
motivo para dar graças a Deus." "Sim, senhor" -respondeu-
"agora me sinto como uma mulher feliz e enaltecida. Nunca havia sido até
agora, que eu saiba, o meio de trazer uma alma a Cristo." E a boa mulher
se via muito feliz, e lágrimas de alegria brotavam de seus olhos.
Quantas
pessoas trouxeste a Cristo durante este ano? Vamos, cristão, que fizeste? Ai!
Ai! Tu não foste uma figueira estéril, mas ainda assim teu fruto é de tal
natureza que não pode ser visto. Poderiam estar vivos para Deus, mas, quantos
de vocês foram muito improdutivos e infrutíferos?
E
não pensem que enquanto trato duramente com vocês eu mesmo queira escapar-me.
Não; eu me faço a pergunta: "O que
eu fiz?" E quando penso no zelo de Whitefield, e na sinceridade de
muitos daqueles grandes evangelistas dos tempos antigos, fico consternado
comigo mesmo, e me faço a pergunta: "O
que eu fiz?" Eu somente posso responder a esta pergunta sentindo-me um
pouco confuso. Quão repetidamente preguei a vocês a Palavra de Deus, e,
contudo, quão poucas vezes chorei por vocês como um pastor deveria fazer! Quão
frequentemente deveria adverti-los sobre a ira vindoura, e também me esqueci de
ser mais esforçado do que poderia ter sido. Temo que o sangue de algumas almas
permaneça em minha porta quando me apresente para ser julgado por meu Deus no
final. Lhes suplico que roguem por seu pastor por isto: que seja perdoado, se
alguma vez houve falta de intrepidez, e de energia e de oração, e roguem que
durante o ano seguinte pregue sempre como se não pudesse pregar nunca mais:
"Como um homem moribundo a homens
moribundos."
Enquanto questionava ao cristão com a pergunta: "O que eu fiz?", escutei o moralista que dizia: "senhor, fiz tudo o que deveria fazer. O senhor poderia, como um pregador do Evangelho, estar ali e falar-me sobre pecados; mas eu lhe digo, senhor, que fiz tudo o que me correspondia; sempre assisti regularmente a minha igreja ou capela cada domingo, na medida que um homem ou uma mulher podem fazê-lo; sempre fiz orações em família, e sempre oro antes de ir dormir e quando me levanto pela manhã. Não devo nada a ninguém, que eu saiba, nem fui áspero com ninguém; dou uma porção substancial aos pobres e creio que se as boas obras tem algum mérito, certamente fiz muitas."
Muito
correto meu amigo, na verdade muito correto, se as boas obras tivessem algum
mérito; mas desafortunadamente não tem nenhum, pois, nossas boas obras, se as
fizéssemos para salvar-nos por elas, não são melhores que nossos pecados.
Poderias muito bem esperar ir ao céu por amaldiçoar e jurar, que ir pelos
méritos de tuas próprias boas obras; porque ainda que as boas obras sejam
infinitamente preferíveis a amaldiçoar e jurar desde um ponto de vista moral,
contudo, não há mais mérito em um do que há no outro, ainda que haja menos
pecado em um do que no outro. Tenha a bondade de recordar, então, que tudo o
que estiveste fazendo todos estes anos não serve de nada.
"Bem,
senhor, mas eu confiei em Cristo." Agora, alto aí! Permita-me fazer-te uma
pergunta. Queres dizer que confiaste em parte em Cristo e em parte em tuas
próprias boas obras? "Sim, senhor." Bem, então, me deixe dizer que o
Senhor Jesus Cristo não será utilizado para fazer contrapeso; deves tomar a
Cristo plenamente, pois Cristo não será nunca a metade na obra da tua salvação.
Então, repito, tudo o que tenhas podido fazer não serve de nada. Tens estado
construindo uma casa de papel e a tempestade a porá por terra; tens estado
construindo uma casa sobre areia, e quando as chuvas desçam, e venham rios, o
último vestígio dessa casa será arrasado para sempre.
Ouçam
a palavra do Senhor! "Pelas obras da
lei nenhuma carne será justificada." "Maldito todo aquele que não
permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las";
e, na medida em que não permaneceram em todas
as coisas escritas na lei, vocês são transgressores da lei, e estão debaixo
de maldição, e tudo o que a lei tem para dizer-lhes, é: "maldito, maldito, maldito! Sua moralidade
não lhes serve de nenhuma ajuda, com relação às coisas eternas."
Volto a outro ponto. Dizes: "bem, eu não
confio em minha moralidade nem em nenhuma outra coisa; eu digo:
“Vá,
torpe ansiedade, peço que se afastes de mim”
Não
tenho nada que ver com falar da eternidade, como queres que faça. Mas, amigo,
não sou uma pessoa má, depois de tudo. São muito poucas as coisas más que faço;
de vez em quando um pecadinho, simplesmente uma pequena insensatez, mas nem meu
país, nem meus amigos, nem minha própria consciência podem dizer algo contra
mim. É certo, eu não sou nenhum de seus santos; eu não professo ser demasiado
estrito; às vez posso ir demasiado longe, mas é somente um pouco, e me atrevo a
dizer que podemos endireitar todas as coisas antes que venha o fim." Bem,
amigo, mas eu gostaria que fizesses a pergunta: "O que eu fiz?"
Me
parece que se cada um de vocês simplesmente tirasse essa película que cobre seu
coração e sua vida, poderiam ver uma aflitiva lepra ocultando-se detrás do que
fizeram. "Bem, tratando-se disso" –diria alguém- "talvez tenha
bebido um copo ou dois a mais algumas vezes." Pare um pouco! Qual é o nome
disso? "Vamos, é somente um pouco de alegria, amigo." Alto lá: demos
o nome correto. Como chamarias se tratasse de qualquer outra pessoa?
"Embriaguez, suponho."
Outro
diz: "talvez tenha discursado algumas vezes sem muito refletir." Que é isso? "Foi somente um momento de dispersão. Sim, mas por
favor dê o nome que corresponda: conversas lascivas. Escreve isso. "Oh,
não, amigo; as coisas estão ficando muito sérias!" Sim, verdadeiramente
são; mas não parecem ser mais sérias do que realmente são.
Algumas
vezes saístes no domingo, não é mesmo? "Oh, sim!; mas somente de vez em
quando; somente algumas vezes." Sim, mas vamos escrevê-lo como é e vejamos
em que lugar da lista vai ficar. Quebrantamento do domingo! "Alto"
-dizes tu- "não passei além disso, amigo; na verdade não fui muito
além." Eu suponho que em tuas conversas, algumas vezes em tua vida,
citaste textos da Escritura para fazer piadas, não é mesmo? E algumas vezes
clamaste, quando estavas algo surpreso: "Senhor, tem misericórdia de
mim!", e usaste expressões semelhantes. Não me aventuro a dizer que juras:
ainda que haja uma maneira cristã de jurar que usam algumas pessoas, e
consideram que não é jurar realmente, mas o que seria então, ninguém o sabe, e
portanto o registraremos como juramentos: maldições e juramentos. "Oh,
amigo!, foi somente quando alguém me pisou os pés, ou quando estava
irado." Não importa, registra-o com seu nome correto: obteremos de ti uma
boa lista em seguida.
Eu suponho que no comércio nunca adulteras teus
artigos. "Bem, esse é
um assunto de negócios no qual não deves interferir." Pois, acontece que
vou interferir – e se estás de acordo, o chamaremos pelo seu nome correto: “roubo”.
Registraremos isso. Eu suponho que nunca foste duro com um devedor, não é
mesmo? Não hás desejado nunca, em nenhum momento, ser mais rico, e em outras
ocasiões, não hás desejado, um pouquinho, que teu vizinho em frente perdesse
parte de sua clientela, para que tu a adquirisses? Bem, chamaremos isso pelo
seu nome correto: isso é "avareza, que é idolatria."
Agora,
parece que a lista se está ficando negra. Além disso, como passaste todo este
ano? E, ainda que tenhas pretendido orar algumas vezes, realmente oraste alguma
vez? Não, não o fizeste. Bem, então deves colocar na lista: falta de oração.
Algumas vezes leste a Bíblia, e algumas vezes escutaste o pastor; mas, depois
de tudo, não deixaste todas estas coisas passarem ao longe? Então, eu quero
saber se isso não é desprezar a Deus, e se não teríamos que registrá-l0 sob
esse nome.
Na
realidade somente necessitamos ir um pouco mais longe; pois a lista, uma vez
somada, é pavorosa, e poucos de nós poderíamos escapar de pecados tão grandes
como estes, se nossa consciência estivesse suficientemente desperta.
Mas
há aqui presente um homem que se tornou muito descuidado e indiferente em
relação a cada ponto de moralidade; e me diz: "Ah, jovem amigo!, eu
poderia dizer-te o que fiz durante o ano." Alto, amigo, não desejo saber
isso particularmente agora; podes dizer-te a ti mesmo quando chegues em casa.
Há pessoas jovens aqui: talvez não lhes fizessem muito bem saber o que tu
fizeste. Não és nada melhor do que deverias ser, afirmam algumas pessoas; o que
significa que és tão mau que não lhes seria bom dizer o que és. Por acaso
supões que em toda esta congregação não contamos com homens pervertidos, que se
entreguem ao pecado mais terrível e à lascívia mais vil?
Vamos,
o anjo de Deus pareceria estar sobrevoando em nosso meio e tocando a
consciência de alguns para fazê-los saber a quais iniquidades se entregaram
durante o ano. Eu peço a Deus que minha simples alusão a eles possa ser o
instrumento para despertar sua consciência.
Ah!
Vocês poderiam ocultar seus pecados; o cobertor da escuridão poderia ser seu
refúgio; vocês poderiam pensar que não serão descobertos nunca; mas recordem
que cada pecado que tenham cometido será lido diante do Sol, e os homens e os
anjos o escutarão no dia da conta final.
Ah, querido leitor! Independentemente que
sejas moral ou que sejas dissoluto, te suplico que respondas hoje solenemente a
esta pergunta: "O que eu fiz?"
Seria muito bom que pegasses um pedaço de papel quando chegasses em casa, e
simplesmente escrevesses tudo o que fizeste, desde Janeiro passado até
Dezembro; e se alguns de vocês não se espantam com isso, devo dizer-lhes que
devem ter nervos muito fortes, e que ainda não são candidatos ao pânico.
Agora
me dirijo de maneira especial ao homem não convertido, e gostaria de ajudá-lo a
responder a esta pergunta desde outro ponto de vista. "O que eu fiz?" Ah, homem, tu
que vives em pecado, tu que és um amante do prazer mais que um amante de Deus,
que fizeste tu? Acaso não sabes que um pecado basta para condenar uma alma para
sempre? Acaso não leste nunca na Santa Escritura que é maldito o que peca uma
só vez? Quão condenado, então, tu estás pelas miríades de pecados somente deste
ano! Recorda, te suplico, os pecados de tua juventude, e tuas transgressões
anteriores até este momento; e se somente um pecado te arruinaria para sempre,
quão arruinado estás agora! Vamos, homem, uma onda de pecado poderia afogar-te.
Que farão estes oceanos de tua culpa? Uma única testemunha contra ti bastará
para condenar-te: contempla as multidões de absurdos e de crimes congregados ao
redor do tribunal que vieram testemunhar contra ti no juízo. Como escaparás de
seus testemunhos, quando Deus te chame ao Seu tribunal? Que fizeste tu? Vamos,
homem, responde esta pergunta. Há muitas consequências envolvidas em teu
pecado, e para responder esta pergunta corretamente deves responder a cada
consequência: que fizeste à tua própria alma? Vamos, tu a destruíste; fizeste o
melhor que podias para arruiná-la para sempre. Tens estado cavando calabouços
para tua própria pobre alma; tens estado empilhando feixes de lenha; tens
estado forjando correntes de ferro, combustível para queimá-la, e grilhões para
acorrentá-la para sempre.
Recorda,
teus pecados são como o plantio para uma colheita. Que
colheita semeaste para tua pobre alma! Semeaste vento e
colherás torvelinho; iniquidade semeaste e condenação colherás.
Mas
que fizeste contra o Evangelho? Recorda quantas vezes este ano escutaste sua
pregação. Vamos, desde teu nascimento tem havido vagões carregados de sermões
desperdiçados em ti. Teus pais oraram por ti em tua juventude; teus amigos te
instruíram até que alcançaste a idade adulta. Desde então, quantas lágrimas
foram derramadas pelo pastor por tua causa! Quantas súplicas foram dirigidas
aos teus ouvidos! Mas tu quebraste a flecha. Os pastores se preocuparam em
salvar-te, mas tu não te preocupaste por ti mesmo.
Que
fizeste contra Cristo? Recorda que Cristo foi um bom Cristo para os pecadores
aqui; mas assim como não há nada que arda tão bem como essa suave substância
que é o azeite, assim não haverá nada que seja tão feroz como esse Salvador de
bondoso coração, quando venha para ser teu Juiz. Mais feroz que um leão sobre
sua presa é o amor rejeitado. Despreza a Cristo na cruz, e será algo terrível
para ti ser julgado por Cristo quando estejas em Seu trono.
Além
disso: que fizeste por teus filhos neste ano? Oh! Há alguns aqui presentes que
tem estado fazendo todo o possível para arruinar as almas de seus filhos.
"É uma responsabilidade a que descansa sobre um pai"; e, que se dirá
de um pai bêbado? Que se dirá do homem que dá a seus filhos um exemplo de
embriaguez?
Blasfemo,
que fizeste por tua família? Acaso não tens estado retorcendo a corda para sua
destruição eterna? Acaso não farão com segurança o mesmo que tu fazes?
Mãe,
tu tens vários filhos, mas neste ano não oraste por nenhum deles. Nunca puseste
teu braço ao redor deles enquanto estavam de joelhos junto à sua cama pela
noite, e diziam: "Pai nosso"; nunca lhes falaste do Jesus que amava
as crianças, e que uma vez se fez uma criança como eles. Ah, então, descuidaste de teus filhos.
Eu
recordo uma mãe que foi convertida a Deus em sua velhice e ela me disse – e não
esquecerei nunca a dor dessa mulher- "Deus me perdoou, mas eu nunca me
perdoarei a mim mesma. Pois, senhor," - comentou ela - "alimentei e
criei meus filhos, mas o fiz sem nenhuma consideração à religião." E logo
começou a chorar e me disse: "senhor, fui uma mãe cruel; fui uma
infeliz!" "Vamos, minha boa mulher" - lhe repliquei- "tu
criaste teus filhos." "Sim," –respondeu ela- "meu esposo
morreu quando eram muito pequenos e me deixou com seis filhos e estas mãos
ganharam o pão para eles e lhes proveram as vestes; "ninguém" -me
disse- "poderia acusar-me de ser áspera com eles em algo, exceto nisto:
mas resulta ser o pior de tudo, pois fui uma mãe cruel para eles, pois enquanto
alimentava seus corpos, descuidava de suas almas."
Mas
alguns têm ultrapassado isto. Ah, jovem amigo, não somente fizeste o melhor que
podias para condenar-te, mas tu fizeste o melhor para condenar a outros!
Recorda em Janeiro passado, quando convidaste aquele jovem para que fosse pela
primeira vez ao bar, e riste de todos seus infantis escrúpulos segundo os
chamavas tu, e lhe convidaste a que bebesse como fizeste tu. Recorda quando na
escuridão da noite conduziste ao mau caminho por primeira vez a um jovem cujos
princípios eram virtuosos, e que não conhecia a lascívia até que tu a
revelaste; lhe disseste naquele momento: "vem comigo; te mostrarei a vida
de Londres, vou deixar que vejas o prazer!" Aquele homem jovem -quando
veio à tua oficina pela primeira vez- costumava ir à casa de Deus aos domingos
e parecia dar indícios de ir ao céu, "ah!", -dizes- "pelo
ridículo tirei do Jackson a religião, e já não vai a nenhum lado aos domingos
exceto para ir para a farra, e é tão divertido agora como qualquer um de
nós." Ah!, amigo, e tu terás dois infernos quando te converteres em um
condenado; terás teu próprio inferno e o seu também, pois ele te olhará através
das arrepiantes chamas, e te dirá: "talvez nunca tivesse estado aqui, se
tu não me houvesses trazido aqui!" E, ah!, sedutor, que olhos serão os que
te olharão com um olhar feroz e penetrante através do horror do inferno? Serão
os olhos de alguém a quem conduziste à iniquidade! Que duplo inferno será para
ti quando te olhem ferozmente como duas estrelas cuja luz é fúria murchem teu
sangue para sempre!
Façam
uma pausa, vocês que conduziram outros ao desvio, e tremam agora. Eu mesmo fiz
uma pausa, e orei a Deus quando conheci o Salvador, para que me ajudasse a
conduzir a Cristo àqueles que eu havia conduzido ao desvio de alguma maneira.
E
eu recordo que George Whitefield diz que quando começou a orar, sua primeira
oração foi que Deus convertesse aqueles com os quais costumava jogar cartas
desperdiçando seus domingos. "E bendito seja Deus" -diz- "cada
um deles foi convertido".
Oh,
Deus meu, acaso não posso detectar surpresa e terror em algum rosto aqui? Acaso
não tremem e batem seus joelhos? Acaso não se acovarda em seu interior o
coração de ninguém por causa de sua iniquidade? Na verdade não pode ser assim,
pois de outra maneira seus corações se transformariam em aço, e suas entranhas
se transformariam como ferro em seu interior. Na verdade, se fosse assim, as
palavras de Deus são com certeza verdadeiras, aquelas palavras nas quais diz,
no versículo sete deste capítulo: "Até
a cegonha no céu conhece os seus tempos determinados, e a rola e o grou e
andorinha observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo
do Senhor." E certamente tinha razão
aquele profeta que disse: "O boi
conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não
tem conhecimento, o meu povo não entende."
Oh,
são vocês tão brutos para deixar que as reflexões dessa culpa passem sobre
vocês sem que lhes causem espanto e terror? Então, na verdade, nós que sentimos
nossa culpa temos necessidade de dobrar nossos joelhos por vocês, e orar para
que Deus os conduza todavia a conhecerem-se a vocês mesmos; pois, vivendo e
morrendo como vocês são, endurecidos e sem esperança, sua porção deverá ser
extremamente horrível.
Quão
feliz seria se pudesse esperar que a maioria de vocês pudesse acompanhar-me
nesta humilde confissão de nossa fé; posso falar como se estivesse falando por
cada um de vocês? Será opção de vocês aceitar o que disse ou rejeitá-lo; mas eu
confio que a grande maioria de vocês me seguirá: "Oh, Senhor! Eu confesso
nesta manhã que meus pecados são mais pesados do que posso suportar; mereci Tua
ira mais ardente, e Teu infinito desgosto; e dificilmente me atreveria a
esperar que possas ter misericórdia de mim; mas, considerando que Tu entregaste
a Teu Filho para que morresse na cruz pelos pecadores, e que Tu disseste
também: 'Olhai para mim, e serei salvos,
vós, todos os termos da terra,' Senhor, eu te olho nesta manhã, e ainda que
nunca tenha olhado antes, contudo, olho agora; ainda que tenha sido um escravo
do pecado até este momento, contudo, Senhor, aceita-me, pecador como sou, por
meio do sangue e da justiça de Teu Filho, Jesus Cristo. Oh Pai, não me olhes
com desagrado; sei que poderias fazê-lo, mas eu invoco essa promessa que diz: 'e o que vem a mim, de maneira nenhuma o
lançarei fora.' Senhor, eu venho:
'Tal como sou, sem nenhum
argumento,
Exceto que Teu sangue foi derramado por mim,
E que Tu me pediste que viesse;
Oh Cordeiro de Deus, eu venho.'
'Minha fé, na verdade, põe sua mão
Nessa Tua amada cabeça,
Enquanto que como penitente estou,
E ali confesso meu pecado.'
Exceto que Teu sangue foi derramado por mim,
E que Tu me pediste que viesse;
Oh Cordeiro de Deus, eu venho.'
'Minha fé, na verdade, põe sua mão
Nessa Tua amada cabeça,
Enquanto que como penitente estou,
E ali confesso meu pecado.'
Senhor, me aceita, Senhor me perdoe, e me tome como sou, de agora em diante e para sempre, para que seja Teu servo, para que seja Teu redimido quando morra."
Podes
dizer isso? Acaso não o disseram muitos corações? Acaso não ouvi que muitos
lábios o sussurraram em silêncio? Tem bom ânimo, meu irmão, minha irmã; se isso
brotou de teu coração, estás tão a salvo como os anjos do céu, pois és um filho
de Deus, e não perecerás nunca.
III. Agora tenho
que dirigir umas quantas palavras de ADMOESTAÇÃO AFETUOSA, e então terei
concluído. É algo muito solene pensar como os anos voam. Nunca passei
um ano mais curto em minha vida que este, e quanto mais velho fico, mais breves
se tornam os anos; e tu, ancião, me atreveria a dizer: olhas atrás para teus
sessenta ou setenta anos, e dizes: "Ah, jovem amigo, parecerão mais curtos
muito em breve." Sem dúvida o serão.
"Ensina-nos a contar os nossos dias,
de tal maneira que alcancemos corações sábios."
Mas,
não é acaso algo solene que outro ano quase haja passado, e, contudo, muitos de
vocês não sejam salvos? Vocês se encontram exatamente onde se encontravam no
ano passado. Não, não se encontram no mesmo lugar, pois estão mais perto da
morte, e estão mais perto do inferno, a menos que se arrependam; e, talvez, nem
sequer o que eu disse esta manhã surtirá algum efeito em vocês. Não estão endurecidos completamente, pois tiveram muitas impressões
sérias. Quantidade
de vezes choraram pelos sermões, mas, tudo foi em vão, pois seguem sendo o que
eram.
Lhes
suplico que respondam a esta pergunta: "O que eu fiz?", pois recordem que virá o tempo em que farão
essa pergunta, mas será demasiado tarde. Quando será isso? -Perguntas- No leito
da morte? Não, ali ainda não é demasiado tarde.
"Enquanto a lâmpada siga
ardendo,
O pecador mais vil poderia regressar."
O pecador mais vil poderia regressar."
Mas será demasiado tarde para perguntar: "O que eu fiz?", quando a respiração houver abandonado teu corpo. Simplesmente suponham que o Monumento[2] fosse como costumava ser, antes de que impedissem o acesso. Suponham que sobes pelas escadas de caracol até em cima, com plena determinação de destruir-se. Encontra-se na parte exterior da grade da varanda. Podem imaginá-lo por um momento perguntando: "O que eu fiz", justo depois de haver saltado? Vamos, me parece que algum espírito no ar poderia sussurrar: "fiz? Fizeste o que não podes desfazer nunca. Estás perdido, perdido, perdido!".
Agora,
recordem que os que não tem a Cristo estão subindo hoje por essa escada de
caracol; talvez amanhã estarão na hora da morte, no cume dessa torre, e quando
a morte se houver apoderado de vocês, e estiverem no momento preciso de saltar
desse monumento para baixo, no momento de desespero, essa pergunta estará cheia
de horror para vocês: "O que eu fiz?"
Mas
a resposta para ela não será de utilidade, mas sim cheia de terror. Parece-me
ver um espírito lançado ao mar da eternidade. Ouço que pergunta: "O que eu fiz?" És submerso em meio
às ondas de fogo, e grita: "O que eu
fiz?" Vês diante de ti uma longa eternidade; mas fazes a pergunta
novamente: "O que eu fiz?" A terrível resposta chega: "tu ganhaste tudo isto. Tu conhecias
teu dever, mas não o cumpriste; foste advertido, mas desdenhaste a
advertência."
Ah!
Ouçam o funebre monólogo de tal espírito. O último e grandioso dia chegou; o
trono chamejante está instalado, e o grande livro é aberto. Ouço quando folheiam as folhas com ruídos terríveis. Vejo que se
fazem sinais aos homens para que se formem à direita ou à esquerda, de acordo
ao resultado desse grande livro. E ‘o que
eu fiz?’ Eu sei que para mim o pecado será destruição, pois nunca busquei a
um Salvador. Que acontece agora? O Juiz fixou Seu olhar em mim. Agora se voltou
para mim. Me dirá: "Apartai-vos de
mim, maldito"? Oh, que seja eu esmagado para sempre em vez de suportar
esse olhar. Não há nenhum ruído, mas o dedo é levantado, e sou arrastado para
fora da multidão, e estou sozinho diante do Juiz. Ele vira minha página, e
antes de que a leia, meu coração treme dentro de mim. "Assim seja" –diz Ele- "não foi
apagado com meu sangue. Tu desprezaste meus chamados; riu do meu povo; não
quiseste nada de minha misericórdia; disseste que receberias o pagamento da tua
injustiça. Receberás teu pagamento, e o
salário do pecado é a morte." Ah, miserável de mim, e, está a ponto de
dizer: "Apartai-vos de mim, maldito"?
Sim, com uma voz mais forte que mil trovões, diz: "Apartai-vos de mim, maldito, para o fogo eterno preparado para o diabo
e seus anjos”. “Ah, tudo está certo agora. Eu ria do
pastor porque pregava sobre o inferno; e aqui estou, eu mesmo, no inferno; ah!,
eu costumava me perguntar por que ele queria assustar-nos tanto. Ah!, quisera
Deus me haver aterrorizado mais, e que eu houvesse ficado tão assustado como
para sair deste lugar. Mas agora, eis-me aqui perdido e sem escapatória. Estou
em trevas tão escuras que não há um raio de luz que possa alcançar-me jamais.
Estou encerrado tão hermeticamente, que nenhum dos ferrolhos nem barras podem
ser tiradas jamais. Estou condenado para sempre.”
Ah,
esse é um terrível monólogo. Eu não posso dizer a vocês. Oh, se vocês mesmos
pudessem estar ali, se somente pudessem conhecer o que sentem os condenados, e
ver o que tem que aguentar, então se surpreenderiam que eu não haja sido mais
intrépido na pregação do Evangelho, e se maravilhariam, não porque eu deseje
fazê-los chorar, mas porque não haja chorado muito mais eu mesmo, e não haja
pregado mais solenemente.
Ah,
meus leitores, como vive o Senhor meu Deus, em cuja presença estou, algum dia
serei reconhecido por sua consciência como havendo sido um verdadeiro
testemunho para vocês esta manhã; mas não há nenhum de vocês aqui hoje que
fique sem desculpa se perecer. Vocês foram advertidos; eu lhes adverti tão
sinceramente como pude. Não tenho mais poderes para usar, não mais artes para
tentar, não mais persuasão que possa utilizar.
Unicamente
posso concluir dizendo que lhes suplico que corram para Jesus. Suplico-lhes,
como espíritos imortais que estão destinados a uma bem-aventurança eterna ou a
uma pena eterna, que fujam para Cristo; busquem misericórdia de Suas mãos;
confiem Nele e sejam salvos; e por sua conta e risco, rejeitem minha solene
advertência. Recordem que podem rejeitá-la, mas não estão rejeitando a mim, mas
a Ele, que me enviou. Poderiam desprezá-la, mas não estão desprezando a mim,
mas a um maior que Moisés, a Jesus Cristo o Senhor; e quando se apresentem
diante de Seu tribunal, Sua linguajem será contundente, e Suas palavras
terríveis, quando os condene para sempre, para SEMPRE, PARA SEMPRE, sem
esperança, para sempre, para sempre, para sempre. Que o Senhor nos livre disso,
por Jesus Cristo nosso Senhor, Amém!
___________________
ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA
CONVERSÃO DE MUITAS ALMAS PARA CRISTO.
Tradução:
Rosangela Cruz
Revisão
e diagramção: Armando Marcos
Texto
original: "¿Qué He Hecho?",
de Allan Román,
Traduzido
do original em inglês “WHAT HAVE I DONE?”,
do Volume 4 do New Park Street Pulpit.
NOTAS
[1] Nesse sermão, preferi traduzir o versículo bíblico de Jeremias 8:6
da forma direra da KingJames Version para que a fluência fosse melhor do que
“que fiz eu”, como aparece na ACF (Nota do tradutor)
[2] Spurgeon faz referência a uma coluna dórica conhecida em inglês
como “The Monument”, foi construída
perto da Ponte de Londres em 1677 para lembrar o grande incêndio que devastou a
cidade de Londres em 1666. Para subir ao mirante, protegido com uma grade para
os turistas, de onde se pode contemplar toda a cidade, há 311 degraus. Provavelmente
estava em reforma no momento do comentário de Spurgeon, e não havia acesso ao
público . (Nota do tradutor Allan Román) A capa desse sermão é uma lustração de
1905 do Monumento
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